Justiça com as próprias mãos
Publicado por Luiz Flávio
Gomes -
O termômetro da
nossa insanidade coletiva, incluindo os setores radicais da mídia, está
subindo, paralelamente à violência desbragada. Onde falta ética e educação de
qualidade, ou seja, um bom IDH (índice de desenvolvimento humano), sobra a
marcha tribal da insensatez. Em ano eleitoral, é de se imaginar que o clima
quente da reação emotiva contra a violência, tal qual o do verão, vai bem
longe. O Brasil continua na contramão da história civilizatória.
Está chegando a
conta dos 514 anos de colonialismo teocrático (herança maldita), autoritarismo
(arquétipo do Pai), parasitismo dos dominadores (escravidão, corrupção e
neoescravidão), selvagerismo (violência epidêmica), ignorantismo (3/4 da
população é analfabeta ou semialfabetizada – ver Inaf) e segregacionismo (apartheid
sócio-étnico-econômico). Guerra de todos contra todos (Hobbes), que esquenta
mais ainda quando bandidos das classes de cima passionalmente (Durkheim) se
igualam à violência dos marginalizados perversos (por meio da justiça com as
próprias mãos ou dos linchamentos, não autorizados pelo “contrato social”). De
acordo com os indicadores socioeconômicos do Brasil, há um exército de milhões
de jovens sem trabalho, sem estudo e sem estrutura familiar ou social
solidificada (nem, nem, nem). São rejeitados por todos, até mesmo pela “ralé”,
que é a classe D.
Nosso estágio de desigualdade socioeconômica (a melhora dos últimos anos
foi totalmente insuficiente) e de degeneração moral coletiva chegou ao fundo do
poço. Enquanto não rompermos a herança maldita da nossa estúpida, corrupta e
violenta colonização, não vamos nunca sair desse atoleiro sanguinário e
parasitário comandado pelas elites burguesas do capitalismo extrativista e
selvagem. Só existe um caminho para a ruptura: ética e educação de qualidade para
todos, tal como fizeram, depois de muita luta do povo, os países do elogiável
capitalismo evoluído e distributivo (Dinamarca, Noruega, Suécia, Japão, Coreia
do Sul etc.).
Educação civilizatória obrigatória,
em período integral, promovendo-se assim, finalmente, nossa primeira grande
revolução! Temos todos, ricos e pobres, o dever imperativo categórico (Kant) de
levantar essa bandeira. Os 47 países com melhores IDH do mundo têm 1,8
assassinatos para cada 100 mil pessoas. O Brasil, com IDH ridículo para sua
riqueza, é o 16º país mais violento do planeta, com 27,1 assassinatos, por 100
mil habitantes, em 2011. Enquanto não radicalizarmos no sentido da educação
universal e da melhora substancial da renda per capita do povo que trabalha
duramente, só resta ir contabilizando os “cadáveres antecipados”, a ira, o
ódio, a insatisfação e a indignação massiva (que são os ingredientes de uma
estrondosa revolução que ainda não ocorreu).
Publicado por Luiz Flávio
Gomes
Jurista e professor. Fundador da Rede
de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de
Justiça (1980 a 1983), Juiz...